No Brasil, país conhecido por sua receptividade com imigrantes, a religião islâmica conquistou espaços importantes, especialmente em Estados como Paraná e São Paulo, onde a comunidade árabe tem uma presença considerável.
De acordo com informações da Federação das Entidades Muçulmanas do Brasil, o país tem cerca de 1,5 milhão de praticantes desta religião (sendo 95% de sunitas e 5% de xiitas), organizados em cerca de 110 entidades. Para estas pessoas, o território brasileiro é uma espécie de oásis de tolerância religiosa, comparado a outros países.
Uma das religiões que mais crescem no mundo, o islamismo enfrenta, há dez anos, o injusto peso de ser associado aos terríveis atentados realizados contra os Estados Unidos em 11 de setembro de 2011. Mas para os líderes do islã no Brasil, a população local aceita bem os muçulmanos e possui interesse em conhecer mais sobre a cultura árabe.
Curioso e receptivo
“O brasileiro é curioso, quer entender o que se passa ao seu redor. Ele busca conhecer o islã e se informar a respeito”, afirma o sheik Rodrigo Jalloul, líder religioso do único templo xiita de São Paulo, a Mesquita do Brás.
O templo é administrado pela Associação Beneficente Islâmica do Brasil, presidida pelo libanês Seyed Jomoa. “Os brasileiros são receptivos e, ao conviverem conosco, percebem que somos pessoas normais e que estamos em paz”.
Jalloul explica que são poucos os casos de brasileiros que apresentam comportamento hostil ao islamismo. “Às vezes aparece uma pessoa nos ofendendo, sem motivo. Mas é muito raro."
A mesma opinião tem o líder religioso sunita Khaled Taky el Din, representantes dos sheiks no Brasil. “O brasileiro tem uma curiosidade enorme. Quer conhecer mais, não só a religião, mas também a cultura árabe”.
El Din explica que a inserção da comunidade árabe na sociedade brasileira, por vir de décadas, facilita a convivência. “Temos imigrantes muito antigos, vindos há várias gerações. E uma tradição cultural que os brasileiros conhecem”.
Corrente xiita
Jalloul explica que há grande preocupação em levar os preceitos da religião islâmica da forma mais clara possível à população, especialmente porque, segundo eles, o noticiário internacional traz uma visão distorcida da religião. “O xiita é mostrado como um radical e isso não é verdade. Nós seguimos os preceitos do Islã, somado ao uso da razão. Ele não pode tomar uma atitude sem ser racional”.
Esse cuidado especial faz com que a mesquita aceite brasileiros nas cerimônias, mas uma participação mais atuante só acontece após um estudo profundo do livro sagrado islâmico. “Muitos dizem ser tocados pela religião, mas nunca leram o Alcorão. Estes só se integrarão à religião após estudarem bastante”.
A distorção da imagem do Islã é uma preocupação constante, porque há casos de pessoas que procuraram a mesquita inspirado justamente no que é dito erroneamente sobre a religião. “Certa vez, um brasileiro começou os estudos na mesquita. Após um certo tempo, ele veio perguntar para mim se eu tinha o MSN do Osama bin Laden”, comentou o sheik.
Islã pela paz
Nascido no Brasil, o sheik xiita Jalloul se converteu ao islamismo e hoje vive a maior parte do tempo no Irã, onde estuda em um tradicional instituto teológico. “O Alcorão exige um estudo profundo, para que se entenda perfeitamente seus ensinamentos”, explica.
“Infelizmente, algumas pessoas fazem interpretações equivocadas e matam inocentes em nome da religião. Mas o Islã não dá às pessoas o direito de matar. Nossa religião condena o terrorismo”, completou Seyed Jomoa.
Khaled Taky el Din reforça os argumentos e diz que a religião é evocada indevidamente pelos terroristas, que distorcem os ensinamentos do Alcorão. “O Islã não combina com isso”, afirmou. “A religião é contra a matança das almas, trabalhamos para a paz”.
Nascido no Egito e vivendo no Brasil há 20 anos, o líder sunita comentou as dificuldades enfrentadas em outros países após os atentados de 11 de setembro. “Nos EUA e Europa, a comunidade árabe sofreu muito. Graças a Deus, aqui não houve este problema. As pessoas no país não ligavam para a propaganda negativa vinda de fora”.
Entre alguns dos fatores que, segundo el Din, reforçaram a boa receptividade no Brasil, está a divulgação positiva da cultura árabe por meio da teledramaturgia. “Neste período, passou a novela “O Clone” na TV e muita gente assistiu e se interessou ainda mais nossas tradições”.